segunda-feira, 9 de novembro de 2009

VCP - O TREM DA HIPOCRISIA.


Esse trem, que circula pelas linhas da antiga RRFSA entre Bauru e Corumbá, carregando uma serie de vagões cobertos por lonas verdes com inscrições relativas à preservação ambiental... nada mais é do que a exposição da hipocrisia das corporações na sua mais cruel versão que é o segmento das papeleiras, rejeitadas nos países da Europa e América do Norte e recebidas de braços abertos em nossos países, indiferentes aos crimes sociais e ambientais gravíssimos que causam.

Fazer circular junto com os vagões a idéia de que a empresa tem apego à preservação ou respeito à legislação ambiental é um cinismo sem tamanho dadas as características das ações sociais e ambientais que as papeleiras desenvolvem por onde se instalam.

São empreendimentos sujos, de alto impacto ambiental, que em nada acrescentam na economia social. Automatizados, promotores do antiecológico e estéril deserto verde de fauna, flora e recursos hídricos, como todo colonialismo, todo imperialismo.

Só serve mesmo para o enriquecimento do estreito grupo explorador, em detrimento da maioria da população: e não só dos que são vizinhos desses empreendimentos, ou foram por eles despejados ilegal e violentamente, como milhares de trabalhadores rurais, nos estados da Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Afetado o patrimônio ecológico de um sistema natural, o conjunto do país segue mutilado.

O trem da hipocrisia busca esconder a face horrível das papeleiras junto aos desinformados, usando de artimanhas como essa, de apregoar num trem o que o setor nunca fez ou teve o menor comprometimento em fazer: defender o meio ambiente ou minimamente a legislação ambiental e o desenvolvimento saudável.

O trem, para nós, é o desprezo pela opinião pública, que, no entanto, se forma, mesmo contra a vontade desse dinheiro predador do patrimônio natural e da dignidade de milhares de brasileiros pobres, atingidos por essa indústria agressiva ao meio ambiente e recordista de trabalho escravo neste Brasil varonil.

Por isso, assistir The Story of Stuff ("A historia das coisas"), de Annie Leonard, nos faz compreender o crescimento da hipocrisia como um dos mais elementares pilares dessas corporações - ainda mais com nossos governos federal, estaduais e municipais lambendo seus pés.

Esse trem desfilando frases ecológicas e assinadas pela VCP é mais um episodio hilário em que eles pensavam que seriam levados a sério.

ECONG: PARA QUE A VIDA SE PROLONGUE!



EM TEMPO:

1.


Depois de especular contra a moeda brasileira e ter prejuízos com a crise financeira de 2008, a VCP recebeu R$ 6,6 bilhões do governo brasileiro para adquirir a Aracruz Celulose, através da compra de metade da carteira do Banco Votorantim e de um empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES. O custo da compra foi de R$ 5,6 bilhões.

A VCP havia prometido gerar 30 mil empregos no estado do Rio Grande do Sul. Mesmo recebendo recursos e isenções fiscais dos governos federal, estadual e de municípios, a incorporação da Aracruz causou a demissão de 1,2 mil trabalhadores em Guaíba, entre trabalhadores temporários e sistemistas; e a VCP, por si só, demitiu outros 2 mil trabalhadores na metade sul. Como um todo, o agronegócio - em seus diversos tentáculos - foi o segundo setor que mais demitiu com a crise financeira. Apenas em dezembro de 2008, demitiu 134 mil pessoas em todo o país.

A VCP, em agosto, anunciara lucro líquido de 533 milhões de reais no segundo trimestre de 2009, ante lucro de 135 milhões de reais em 2008. A geração de caixa medida pelo Ebitda (sigla em inglês para "lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação") alcançara 158 milhões de reais entre abril e junho, frente a 212 milhões de reais em igual intervalo do ano passado. A margem Ebitda passou de 34 por cento para 23 por cento, na mesma base de comparação.

O lucro da VCP, portanto, funda-se em demissão em massa e destruição ambiental, financiado com recursos do fundo público, isto é, com os nossos impostos. E seu lucro só não foi maior, ora ora, devido aos custos de contrapropaganda que, por sua vez, embora necessária para encobrir a verdade da sua produção, circula racionalizada, bareteada, sem custos adicionais de exposição: a mesma lona que, puramente, deveria cobrir a mercadoria, já fetichizada sob ela, transformando-se num monopólico 'outdoor' móvel, serve para encobri-la, fetichizá-la, por assim dizer, uma segunda vez, com direito a apito altissonante e fechamento do trânsito veicular e pietonal, para obrigar-nos a ver a mensagem (fundida ao suporte, digo, à ALL - América Latina Logística) hipócrita e cinematograficamente sobrepassar, como um trem do avesso. Ou sem vestes, sem pudor, de lona transparente. Afinal, quando a propaganda é demais, até o santo desconfia.

Abaixo, um texto, ao acaso, de VCP + processo judicial.
A propósito, a versão original do documentário de Annie Leonard está na página do FCC no youtube, < http : // www . youtube . com / user / cidadaniadecastilho >.

2.

INFORMATIVO N. 489 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Defensoria paulista propõe ação contra cultivo de eucalipto


A Defensoria Pública de São Paulo propôs Ação Civil Pública contra a expansão da monocultura de eucaliptos geneticamente modificados pela Votorantim e Suzano, no município de São Luiz do Paraitinga, no Vale do Paraíba. A defensoria alega que rios e nascentes da região secaram, animais e pessoas foram contaminadas por agrotóxicos e diversos trabalhadores rurais ficaram desempregados.

'O plantio de eucaliptos, iniciado na década de 70, hoje já chega a 20% do município e está sendo expandido sem a realização de um estudo de impacto ambiental', afirma o defensor público Wagner Giron, que assina a ação. Ele diz ainda que as árvores são plantadas em morros e terrenos em declive próximos a rios e mananciais, contrariando o Código Florestal. O plantio já atinge reservas de Mata Atlântica do Parque Estadual da Serra do Mar, vizinho do município.

A falta de água, segundo o defensor, é uma das maiores queixas da população e de pequenos agricultores. Uma árvore de eucalipto adulta consome 30 litros diários de água. Há também relatos de animais de propriedades vizinhas às das empresas de celulose contaminados por agrotóxicos usados no cultivo dos eucaliptos e pessoas que deixaram a zona rural por falta de emprego.

A ação é resultado de um ano de estudo em conjunto com ambientalistas e atendimento à
população carente. A ação foi proposta contra as empresas VCP-Votorantim Celulose e Papel e Suzano Papel e Celulose, que são proprietárias das fazendas de eucaliptos, e contra o município de São Luiz de Paraitinga e o estado de São Paulo, que têm o dever constitucional de fiscalizar e exigir o cumprimento das normas ambientais.

O pedido liminar é para a suspensão do plantio de eucaliptos até que sejam feitos estudos de impacto ambiental com audiências públicas junto às comunidades rurais afetadas. Por fim, a ação pede a condenação das empresas a indenizarem os prejuízos causados, o corte das árvores cultivadas em área de preservação ambiental permanente e a recomposição da floresta nativa.